Cantareira está abaixo da média mensal em 2021

17/07/2021
Apenas em junho de 2021, o volume de chuva para o mês foi inferior à metade do previsto.

Iniciativa do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), o Projeto Semeando Água alerta que o Sistema Cantareira registrou 587,9 mm de chuva no primeiro semestre de 2021, o equivalente a 68% do previsto para o período. “Até o momento, o Sistema ficou abaixo da média em todos os meses de 2021, algo que não aconteceu nenhuma vez desde 2003. No acumulado dos últimos 12 meses, estamos 468 mm abaixo da média histórica e, se ampliamos o período da análise para os últimos 18 anos, encontramos algo próximo apenas em 2014”, disse Alexandre Uezu, coordenador do Projeto Semeando Água. 

Apenas em junho de 2021, o volume de chuva para o mês foi inferior à metade do previsto. O Cantareira registrou 26,1mm, enquanto a média histórica do mês é de 57,1mm. Em julho de 2021, no dia 10, por exemplo, o Sistema contava com 43,8% do volume, cerca de 10% a menos em comparação à mesma data em 2013 – pré-crise hídrica, com 55,9%. 

O Sistema Cantareira abastece cerca de 7,6 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, além de Campinas e Piracicaba. Para quem vive na região, o baixo volume já é visível, em especial nos municípios de Bragança Paulista, Piracaia e Joanópolis. "Ainda temos pela frente ao menos mais três meses do período de seca na região – julho a setembro. Isso se tivermos a chegada da temporada de chuvas em outubro, o que não aconteceu em 2020, por exemplo", destaca Uezu. 

Na região Sudeste, onde está localizado, o Sistema Cantareira inspira atenção, tanto que o Governo Federal, por meio do Sistema Nacional de Meteorologia (SNM,) publicou nota de Alerta de Emergência Hídrica associado à escassez de precipitação para a região hidrográfica da Bacia do Paraná que abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná para o período até setembro de 2021. A nota técnica de Alerta de Emergência Hídrica é assinada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM) com a participação dos órgãos federais ligados à meteorologia, e com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN). 

Para tentar reverter o cenário estão previstas diversas ações, como o plantio de 35 milhões de árvores nas áreas próximas às nascentes e aos cursos d'água (APPs hídricas – Áreas de Preservação Permanente), uma vez que 60% delas estão desmatadas, segundo o Atlas do Sistema Cantareira, elaborado pelo IPÊ, que já plantou na região 370 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica, em conjunto com a iniciativa privada e com pessoas físicas. Outra medida é a melhoria do uso do solo, por meio da implementação de sistemas produtivos sustentáveis. Segundo dados do Atlas, é necessário recuperar cerca de 100 mil hectares e torná-los aliados da segurança hídrica. Manejo de pastagem ecológica, agrofloresta, silvicultura de nativas e sistema silvipastoril estão entre as práticas implementadas pelo projeto do IPÊ. "Mudanças que melhorem o uso do solo e possibilitem que a água infiltre têm o potencial de aumentar a produção no campo e a lucratividade para o proprietário que passa a desempenhar o papel de aliado da segurança hídrica", completa Uezu.

O Plano de Manejo das Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Sistema Cantareira e da Represa Bairro da Usina, no interior de São Paulo, por meio do Decreto nº 65.244/2020, estabelecido pelo governo do Estado de São Paulo, busca fomentar o desenvolvimento sustentável da região e ao mesmo tempo conservar os recursos naturais. "Entre as alternativas que têm o potencial de contribuir com o desenvolvimento da região, considerando os pilares da sustentabilidade - as dimensões econômica, social e ambiental integradas - está a agricultura com sistemas produtivos de base agroecológica, por exemplo. Atualmente, a agricultura e a pecuária na região, em geral, são baseadas no modo de produção tradicional e revelam baixa produtividade, o que gera impacto no solo, reflete na segurança alimentar e influencia diretamente a economia, já que em tempos de escassez, há aumento dos preços dos produtos. O Plano de Manejo, neste caso, indica melhores formas de uso do solo para que os serviços ecossistêmicos (polinização, água, regulação do clima) garantam a produção e a produtividade adequadas", afirma Simone Tenório, pesquisadora e coordenadora de Políticas Públicas do IPÊ.

O Projeto Semeando Água, do IPÊ, conta com apoio da Caterpillar Foundation, da Tree Nation, da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. São parceiros do projeto: a UFLA - Universidade Federal de Lavras, a UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos, Unifesp – Universidade Federal de São Paulo (São José dos Campos), Instituto Florestal, entre outros.