Ecossistemas tropicais concentram fauna e flora

07/08/2018
Segundo estudo publicado pela revista Nature, os ecossistemas tropicais abrigam mais de três quartos de todas as espécies do planeta.

Segundo o estudo The future of hyperdiverse tropical ecosystems (O futuro dos ecossistemas tropicais hiperdiversos), publicado pela revista Nature, os ecossistemas tropicais abrigam mais de três quartos de todas as espécies de animais e plantas do planeta. O trabalho analisou quatro ecossistemas tropicais: florestas, savanas, sistemas aquáticos e recifes de corais e contou com a participação de pesquisadores brasileiros. 

O levantamento constatou que os ecossistemas tropicais contam com quase todos os corais de águas rasas e mais de 90% das espécies de aves do mundo. “Muitas delas não são encontradas em nenhum outro lugar”, alerta Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental (PA), coautora do trabalho. A principal novidade do estudo é a quantidade da biodiversidade presente em regiões tropicais e os resultados suscitam um alerta global para a necessidade de evitar a perda de espécies nos trópicos e de reverter danos já causados.

O professor Jos Barlow, da Universidade de Lancaster (Reino Unido), autor principal do artigo, diz que o declínio da saúde dos ecossistemas tropicais afeta o bem-estar de milhões de pessoas cujas necessidades básicas dependem desses sistemas. “Por exemplo, estima-se que 70% da precipitação na bacia do Rio da Prata, de 3,2 milhões de km², entre o Uruguai e a Argentina, venha da evaporação na Amazônia, na Região Norte do Brasil”, afirma o especialista. Os ecossistemas tropicais contam com no mínimo 60% da quantidade de espécies de oito grupos de animais e plantas. Isso significa que nos trópicos são encontrados 91% das espécies de aves do planeta; 83% dos anfíbios; 81% dos peixes de água doce; 79% das espécies de formigas; 77% dos mamíferos terrestres; 75% das espécies de plantas; e 66% das espécies de peixes marinhos. “Para se ter uma ideia da importância dessas regiões, mesmo as aves que não são nativas dos trópicos abrigam-se nesses ecossistemas por longos períodos, em função do movimento migratório de determinadas espécies”, conta Cecília Leal, coautora do estudo, do Museu Paraense Emilio Goeldi.

Os especialistas comentam que os ecossistemas tropicais têm passado por uma série de estresses no âmbito local - desmatamento, extrativismo predatório – e global, como as mudanças climáticas. A soma desses problemas locais e globais trouxe ameaças e risco de extinção de diversas espécies de animais. Por exemplo, no Norte brasileiro há centenas de espécies de aves em risco de extinção, incluindo papagaio ararajuba (Guaruba guarouba) e gavião real (Harpia harpyja). Há também a anta (Tapirus terrestris), o peixe-boi (Trichechus inunguis), a lontra (Ptenorua brasiliensis) e espécies de macaco, como uacari-branco (Cacajao calvus), todos com habitat natural na Amazônia e em risco de extinção.