RESÍDUOS

Estacas de concreto a partir de pneus

31/07/2017
O engenheiro civil Valério Henrique França desenvolveu dissertação de mestrado na Unesp de Ilha Solteira em que apresentou estudo da aderência entre o aço e o concreto preparado a partir da substituição parcial da areia por resíduo de borracha proveniente da recauchutagem de pneus - com vistas a viabilizar essa nova mistura na produção de concreto. O trabalho teve a orientação do professor Newton de Oliveira Pinto Junior, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. 
 
França analisou o comportamento do concreto com borracha em fundações, do que resultou a tese sobre o “Comportamento de estaca moldada “in loco” instrumentada e confeccionada com concreto incorporando resíduo de borracha“. Na produção destas estacas o solo é inicialmente furado para introdução da ferragem e do concreto. 
Pesquisas sobre a incorporação de resíduos de borracha de pneus em concreto são realizadas há mais de 30 anos, mas seu uso efetivo em estacas, particularmente em estacas moldadas in loco, não possui registro na literatura técnica e cientifica. O principal foco de França em seu trabalho era a preocupação ambiental. O resíduo de borracha é um passivo ambiental produzido em larga escala mundial e seu aproveitamento em substituição a materiais naturais não renováveis ou de lenta reposição natural, como a areia, é de grande relevância. O impacto desse aproveitamento ressalta quando se sabe que no Brasil são fabricados anualmente cerca de 68 milhões de pneus e 85% ficam no País. 
No processo de recauchutagem, ao ser removida a banda de rodagem gasta do pneu para colagem de nova camada, a borracha sai na forma de pequenas lascas (fibras) que podem substituir a areia, sem necessidade de tratamento, exigindo no máximo uma peneiração para separação de fragmentos maiores que podem chegar a 19 mm, enquanto os menores apresentam diâmetros de até 1,9 mm. Como a substituição de parte da areia pelos resíduos de borracha leva a uma perda de resistência do concreto, que pode ser compensada com a adição de mais cimento à mistura, o pesquisador procurou estabelecer proporções economicamente viáveis e geotecnicamente dentro das normas que devem ser obedecidas na produção de estacas moldadas in loco. 
 
França comparou estacas moldadas in loco a partir de dois tipos de concretos em relação aos níveis de aderência aço-concreto. Nas pesquisas de campo foram moldadas três estacas em concreto convencional e outras três em concreto com resíduos de borracha, com seis metros de profundidade e 30 centímetros de diâmetro, submetidas a ensaios de carga de prova normatizados para as medidas de deformação e de recalque quando submetidas a pressões correspondentes a 25 toneladas.
 
Em relação à aderência aço-concreto as duas formulações se mostraram altamente compatíveis. Os dois tipos de estacas revelaram comportamento muito similar quanto à deformação e ao recalque, observando-se diferenças, respectivamente, de 8% e de 10% maiores, o que o pesquisador considera irrelevantes, segundo as normas estabelecidas. “De acordo com a geotécnica pode-se considerar esse comportamento muito próximo, o que comprova que o aproveitamento de resíduos de borracha em estacas escavadas in loco é totalmente viável do ponto de vista técnico”, diz o pesquisador. Valério considera que o maior lucro advém do ganho ambiental e que, diante dos desafios ecológicos que o mundo enfrenta não se pode pensar apenas em termos econômicos.