CENTROPROJEKT

ETA com membranas para a Sabesp

06/08/2015
No dia 20 de julho a Sabesp inaugurou a nova unidade de produção de água com o uso de membranas da Estação de Tratamento de Água do Alto da Boa Vista (ETA ABV). Ligada ao Sistema Guarapiranga, o segundo módulo de membranas acrescenta à capacidade da estação mais 1.000 litros por segundo de água tratada, volume suficiente para atender cerca de 400 mil pessoas. O evento de inauguração contou com as presenças do Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Benedito Braga, do presidente da Sabesp, Jerson Kelman e de Paulo Massato, diretor da concessionária, além de demais convidados. 
A Sabesp explica que a obra faz parte do pacote de intervenções essenciais para o enfrentamento da crise hídrica, que já conta com a captação do rio Guaió concluída (mais 1 m³/s) e com a obra em construção da ligação Rio Grande-Alto Tietê (4 m³/s), com cerca de 50% da extensão completa. Em comunicado, a companhia de saneamento de São Paulo informa que o novo aumento de produção de água tratada ajuda a reduzir a retirada do Sistema Cantareira, permitindo ao Guarapiranga avançar em novas áreas, principalmente na região da avenida Paulista. 
A instalação de membranas ultrafiltrantes é uma tecnologia de ponta já empregada em países como Estados Unidos, Israel e Cingapura e já vinha sendo adotada pela Sabesp na própria ETA ABV e na ETA Rio Grande, onde produz 500 litros de água potável por segundo, além do Aquapolo, onde é usada para gerar água de reuso com alto valr de refinamento.  
 
A Centroprojekt do Brasil (CTP) foi quem desenvolveu o projeto para implantar a tecnologia de membranas de ultrafiltração na ETA ABV. A empresa também foi responsável pelos equipamentos e materiais de fornecimento civil, start-up e pré-operação durante seis meses. De acordo com Valdir Folgosi, diretor Técnico da CTP, entre as maiores vantagens da tecnologia de ultrafiltração estão a qualidade superior da água tratada, além da economia de espaço físico e da velocidade de implantação. O uso de membranas tem ainda uma série de ganhos adicionais: o tratamento da água, que levaria pelo menos duas horas, em média, numa estação convencional, é realizado num período de 20 e 30 minutos, com funcionamento automatizado e utilização muito menor de produtos químicos na opção pela ultrafiltração. 
 
Folgosi recorda que quando a CTP ganhou a licitação do projeto, em 2013, a atual crise hídrica não havia ainda se “instalado”. O primeiro módulo para tratamento de 1 m³/seg de água potável através de ultrafiltração foi entregue pela CTP à Sabesp num prazo de 210 dias. A segunda etapa, de mais 1 m³/seg, que acabou de ser inaugurada, bateu outro recorde de execução – apenas 180 dias para conseguir atender o prazo de emergência solicitado pela concessionária estadual. “Trata-se de uma planta compacta, de qualidade superior a uma estação de tratamento convencional, que não tem muito consumo de produtos químicos. Um projeto inovador, motivo de grande orgulho para a engenharia brasileira”, salienta Folgosi. 
 
O primeiro m³ de tratamento por UF está operando desde janeiro deste ano. O investimento da primeira fase foi de R$ 51,5 milhões e na segunda fase foram aplicados mais R$ 42 milhões, totalizando assim recursos da ordem de pouco mais de R$ 93 milhões. 
 
Folgosi ressalta que a unidade de ultrafiltração da ETA ABV é a maior das Américas com essa tecnologia – “até o México não existe planta maior que essa. Embora seja um processo físico de membranas, existe toda uma lógica de controle, uma integração de atividades, que demanda cuidados”, reforça, voltando a pontuar que entre a ampliação de uma estação convencional e a implantação de um aumento de produção visando a tecnologia de ultrafiltração por membrana, o espaço foi uma das vantagens e o prazo de entrega em tempo recorde outra. As membranas, fabricadas pela Koch, são importadas.
 
Tecnologia mais acessível
 
Ana Maria Kairalla, química responsável pela ETA ABV, recorda que há 10 anos, quando tomaram conhecimento da tecnologia de ultrafiltração por membranas, a introdução de fato no mercado era uma coisa muito cara para um país como o Brasil, quase impraticável. Ainda assim, o interesse por mais uma opção de tratamento fez com que a companhia fosse se aproximando da nova alternativa. Desde que começou a prospectar a possibilidade até a implantação atual, Ana Maria acredita que o custo tenha se reduzido em média 50%. 
 
“Nesse período as tecnologias evoluíram e as necessidades por novas alternativas de tratamento aumentaram. Hoje o cenário de escassez de água é bastante importante e na Região Metropolitana de São Paulo a Sabesp já opera duas estações com membranas de ultrafiltração para tratamento de água – a ABV e Rio Grande. Existem outras na área denominada ‘interior’, inclusive uma para tratamento de esgoto em Campos do Jordão”, comenta a química. 
A ETA ABV é a segunda maior da RMSP, fica numa região central e trata a água de um manancial especialmente “complicado” em termos de ocupação marginal. A ETA ABV recebe água do Guarapiranga e atualmente abastece regiões que antes eram atendidas pelo Cantareira, como a avenida Paulista e os bairros de Pinheiros e Cambuci. Oficialmente, a estação abastece 3,8 milhões de pessoas e com a ampliação do novo processo, esse número sobe para algo em torno de 5 milhões de pessoas.
 
Tanto a ETA ABV quanto a Rio Grande foram construídas nos idos de 1958 e associam o tratamento convencional ao método de ultrafiltração. Está nos planos da Sabesp a utilização de UF em outras estações. Mas a ampliação da produção está, é claro, sempre condicionada à obtenção de água bruta. 
 
Enquanto o tratamento convencional é mais químico, mais laboratorial, na tecnologia por membranas o processo se torna mais físico, de pressão e vácuo, além de ser totalmente automatizado. Isso muda o conceito de operação. E, por se tratar de um aspecto novo, demanda treinamento de pessoal, explica Folgosi. Neste momento, a nova unidade encontra-se em etapa de operação assistida, passando na sequência a ser operada pela Sabesp.