MACROMETRÓPOLE PAULISTA

Os impactos do crescimento desordenado

27/05/2019
Segundo os pesquisadores reunidos no “Fórum de Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista”, dos 33 milhões de habitantes da macrometrópole, 3,8 milhões vivem atualmente em condições precárias em 113 dos 174 municípios da área. A macrometrópole paulista engloba as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Baixada Santista, Sorocaba, Vale do Paraíba e Litoral Norte, além das aglomerações urbanas de Jundiaí, Piracicaba e Bragança Paulista. 
 
Calcula-se que o território ocupado por esta parte da população seja de 31,5 mil km² e que esteja avançando em direção a áreas de mananciais e de preservação ambiental. “Ao analisar a distribuição populacional na região, é possível identificar um padrão de ocupação disperso e descontrolado associado à renda”, disse a pesquisadora Angélica Benatti Alvim, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Segundo ela, existe uma concentração de residências de pessoas de alta e média renda próximas aos principais centros urbanos, onde há disponibilidade de empregos e atividades de comércio, serviços, polos de alta tecnologia e infraestrutura de transporte. “Já as moradias da população de baixa renda situam-se em assentamentos precários localizados, de modo espraiado, em áreas de maior fragilidade e de preservação ambiental”, disse. 
 
Angélica comenta que as regiões mais observadas têm sido as metropolitanas de São Paulo, Campinas, Baixada Santista e Vale do Ribeira, já que há o avanço de aglomerados urbanos precários em áreas de preservação ambiental. Também percebemos que áreas próximas à Serra do Japi, em Jundiaí, no Vale do Paraíba e no litoral norte de São Paulo têm sido pressionadas pela ocupação desordenada”. 
 
A ocupação desordenada contribui para maior escassez hídrica, em especial na Região Metropolitana de São Paulo, o que coloca em risco a sustentabilidade de regiões vizinhas à macrometrópole, como é o caso da região do Vale do Ribeira. Segundo estudos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), as áreas mais populosas dessas regiões podem ter de emprestar água de outras regiões em um futuro próximo. 
 
O último Censo Demográfico do IBGE apontou 2,1 milhões de pessoas vivendo em aglomerados subnormais (favelas) na Região Metropolitana de São Paulo. Já na Região Metropolitana da Baixada Santista havia 297 mil e, na de Campinas, pouco mais de 234 mil. Estas 2,1 milhões de pessoas estariam distribuídas em 596 mil domicílios. Desse total, 148 mil estariam situados às margens de córregos, rios e áreas de proteção permanente (APPs), 10 mil em áreas de preservação ambiental e quase dois mil em aterros sanitários, lixões e outras áreas contaminadas, ainda de acordo com dados do IBGE. Entretanto, estudo realizado por pesquisadores do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID’s), apoiados pela Fapesp, revelou que há 1,1 milhão de pessoas a mais em situação de precariedade do que registraram os dados do último Censo Demográfico do IBGE. Com isso, o total ajustado passou a ser de 3,8 milhões de pessoas. “Essa disparidade nos dados censitários indicada pelo Centro de Estudos da Metrópole aponta para o surgimento de pequenos núcleos de favela na macrometrópole paulista”, disse  a pesquisadora Lúcia Maria machado Bógus, professora da PUC-SP, e coordenadora do Observatório das Metrópoles. Lúcia diz que o processo de favelização havia sido revertido, mas com o aumento do desemprego e piora da qualidade de vida da população de baixa renda, é um processo que ressurgiu. Além disso, a professora explica um novo fenômeno de ocupação urbana, a interligação das periferias de municípios vizinhos. “Hoje já não é mais possível se referir à periferia de São José dos Campos, por exemplo, sem lembrar que se vincula à expansão periférica de municípios vizinhos”, disse. “Outro caso que merece destaque é o da cidade de Jundiaí, onde o processo de expansão das periferias, ligando municípios limítrofes, também é bastante evidente”. 
 
Realizado em abril, no Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), o fórum foi organizado no âmbito de um projeto apoiado pela Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e reuniu professores, pesquisadores e estudantes de pós-graduação com projetos em andamento sobre questões ambientais relacionadas à macrometrópole paulista.