MEIO AMBIENTE

Pesquisa estuda como eliminar resíduos têxteis

16/12/2016

 

Um grupo de pesquisadores ligados ao curso de bacharelado em Têxtil e Moda da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), da Universidade de São Paulo, identificou possibilidades de resolver o problema ambiental causado pelo descarte diário e incorreto de milhares de toneladas de retalhos nas calçadas e aterros sanitários da cidade de São Paulo. A professora Francisca Dantas Mendes, vice-coordenadora do curso, estruturou uma proposta, nomeada Sustexmoda, de alcance social e ambiental, que está em articulação com diversas secretarias municipais, entidades de classe e organizações não governamentais.

O projeto de pesquisa foi inspirado na iniciativa “The study into the scope for transforming traditional skills and knowledge into a competitive advantage in small scale textile industries through fashion design”, selecionada em chamada de propostas de intercâmbio apoiada pela FAPESP e pela University of Southampton e coordenada no Brasil por Claudia Regina Garcia Vicentini, doutora em Engenharia Mecânica e professora da EACH/USP. No Reino Unido, os doutores John Hopkins e Anthony Galsworthy, da Winchester School of Art, da University of Southampton, investigaram como pequenas empresas resgataram o modo tradicional inglês de se fazer tecidos de forma mais sustentável ante à concorrência asiática.

As pesquisadoras da EACH/USP realizaram um diagnóstico detalhado dos tapetes que são produzidos por artesãos com retalhos descartados por confecções da região do Bom Retiro. Os artesãos participantes do estudo são pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, que participam do Projeto Ubuntu, criado pela psicóloga Márcia Aguiar para estimular o potencial produtivo e criativo dos abrigados no Complexo Canindé da Coordenação Regional de Obras de Promoção Humana (CROPH). “Por se tratar de uma ação repetitiva e sem riscos, a produção do tapete prende a atenção do operador e o motiva a dar continuidade até a conclusão da peça. Como resultado, esse trabalho de terapia ocupacional tem aumentado a autoestima e o empoderamento dos participantes, além de ser exemplo de destinação útil e adequada dos resíduos têxteis”, disse Claudia Regina Garcia Vicentini, doutora em Engenharia Mecânica e professora da EACH/USP.

Segundo a pesquisadora Francisca Dantas Mendes, que está à frente das negociações para implementação do projeto na cidade, há soluções viáveis já praticadas que podem ser aperfeiçoadas, novos produtos funcionais utilizando a maior quantidade possível de resíduos têxteis podem ser criados, materiais com longo ciclo de vida podem ser desenvolvidos e podem ser reutilizados por diferentes setores produtivos, assim como soluções inovadoras podem ser criadas para degradar ou reutilizar as fibras resultantes dos resíduos têxteis.

 


O projeto Sustexmoda está estruturado em três fases com duração de três anos cada. Na primeira etapa a intenção é mapear e identificar produtos confeccionados com resíduos têxteis e seus produtores para organizar a destinação dos materiais descartados pelas confecções para os setores que os utilizam como matéria-prima. Numa segunda fase, as confecções serão orientadas a fazer adaptações em seus processos produtivos para reduzir a geração de resíduos. E, na terceira etapa, seriam adotadas soluções para eliminar totalmente os descartes inadequados dos resíduos têxteis.Todas essas medidas para reduzir a geração de resíduos e tornar mais adequada a destinação dos materiais seriam conciliadas com o trabalho social do CROPH, com o qual a EACH está estudando a formalização de uma parceria, ou com iniciativa similar.