Brasil produz muito lixo, mas recicla pouco

06/07/2021
O baixo índice de reciclagem pode ser explicado pela falta de conscientização da própria população.

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil gerou 79 milhões de toneladas de lixo em 2018, dos quais apenas 30% do total de resíduos tinha potencial de reciclagem. Porém, somente 3% foi de fato reciclado. O baixo índice de reciclagem pode ser explicado pela falta de conscientização da própria população, ao descartar inadequadamente o lixo e também pelas escassas ações públicas e privadas voltadas para o devido tratamento dos resíduos sólidos. Mas iniciativas, ainda que pontuais, fazem a diferença. 

Uma dessas iniciativas privadas ocorre no município de Hidrolândia (GO) e é desenvolvida pela Marajoara Laticínios em parceria com a Copel Recicláveis. As duas partes mantêm uma central de reciclagem exclusiva para coleta e pré-tratamento de resíduos sólidos secos, que incluem papel, papelão, plásticos e embalagens longa vida. 

Ao todo, a central recicla dez toneladas mensais de material reciclável que é coletado, armazenado e transformado em mercadoria para as indústrias de reciclagem. “Funcionamos como um atacadista reverso dos resíduos sólidos e secos produzidos pela indústria da Marajoara. Essa parceria alimenta várias indústrias da reciclagem, que em sua grande maioria, ficam nos Estados de São Paulo, Santa Catarina e Paraná”, explica Roberto Domingos Junior, diretor da Copel. 

O papel, papelão e o plástico, por exemplo, são processados e transformam-se em novos itens feitos do mesmo material, enquanto as embalagens longa vida, compostas essencialmente por celulose, plástico e alumínio, recebem um tratamento diferente, conforme explica o sócio da Copel. “A celulose, que é tirada dessa embalagem durante a reciclagem, vira um novo papel. Já o plástico e o alumínio são usados para a composição de vários produtos, como por exemplo capas de livros, de cadernos e revestimentos para pisos e paredes. Mas uma destinação que tem sido bem  usual no Brasil é para a fabricação de telhas ecológicas, feitas com o plástico e o alumínio retirados das caixinhas. Elas têm ganhado um grande espaço no mercado de materiais de construção, pois além de mais baratas do que as telhas convencionais de argila, têm uma grande propriedade de isolamento térmico”, explica o executivo da área ambiental.

De acordo com administrador de empresas e especialista em Gestão Ambiental, Fabricio de Freitas Domingos, que também é diretor da Copel, os ganhos ambientais gerados pela reciclagem são enormes. “Ao reciclar seus resíduos gerados, o Marajoara colabora com a diminuição na extração de recursos naturais, com aumento da vida útil dos aterros, e contribui com uma menor poluição, evitando assim a emissão de gases causadores do efeito estufa”, pontua o executivo. Para demonstrar estes ganhos, Freitas cita o exemplo do papelão, que é o material com o qual a Central de Reciclagem da Marajoara mais trabalha. “Levando em consideração que para fabricar uma tonelada de papelão é necessário ao menos 11 árvores de grande porte, com as sete toneladas por mês que coletamos e reciclamos é possível estimar que quase 80 árvores deixam de ser derrubadas por mês graças a essa ação. Por ano então são, em média, quase mil árvores poupadas, fora outros resíduos que, ao serem reciclados, deixam de contaminar o meio ambiente”, descreve Fabrício. O executivo avalia que os números de reciclagem no Brasil poderiam ser bem maiores, se houvesse mais campanhas de conscientização para engajar a população. “A estimativa é que cada brasileiro gera, em média, 387 quilos de lixo por ano, mas somente 3% é, de fato, reciclado”, afirma.

Segundo o gerente industrial da Marajoara, Antônio Júnior Vilela, a central de reciclagem mantida no parque industrial da empresa é apenas uma das várias ações de sustentabilidade desenvolvidas pela marca. “Temos, como uma de nossas missões, ser uma empresa ambientalmente sustentável. Buscamos diariamente cumprir esse compromisso de ter zero de resíduos descartados na natureza de forma inadequada”, destaca o gerente. Além da central, a Marajoara possui sua própria ETE (Estação de Tratamento de Efluentes), que trata toda a água residual gerada pela indústria. “Esses efluentes tratados em nossa ETE geram uma biomassa que é fornecida como adubo para alguns pequenos produtores rurais, que temos cadastrados aqui em Hidrolândia”. 

Recentemente, houve inauguração de um sistema de fertirrigação que usa essa água tratada pela ETE no cultivo de pasto e para a manutenção do lençol freático. “Com isso, temos um aproveitamento de 100% dessa água residual, que após tratada tem um índice de pureza superior a 90%, o que é bem mais do que os 70% exigido em lei”, revela Antônio Júnior.