CONSULTORIA AMBIENTAL

Como a Covid-19 impacta os negócios?

04/05/2020

Para discutir os impactos da Covid-19 nos negócios da área de consultoria e engenharia ambiental e nos principais setores empresariais atendidos, vários dirigentes de empresas, representando mais de 2 mil profissionais no Brasil e quase 6 mil na América Latina, se reuniram e teleconferência, na segunda quinzena de abril. O encontro, mediado por Eugenio Singer, conselheiro da Saneamento Ambiental e diretor geral da Ramboll Brasil, reuniu André Rebouças, da Mérieux Laboratórios, Eduardo Yassuda, da TetraTech, Gustavo Mello da Ramboll, João Marcellino, da Advisian, Karin Formigoni, da Arcadis, Lucila Telles, da Golder, Paulo Santos, da ERM Brasil, Marco Fabiani, da ES4i e Sergio Pompéia, da CPEA.

Abordando o primeiro tópico -- como a crise tem impactado os negócios na área ambiental -- os participantes afirmaram que ainda não houve impacto que resultasse no cancelamento de contratos, embora já tenham se registrado vários atrasos e postergações de contratos. Para muitos, a chegada da pandemia ao Brasil aconteceu de forma muito rápida. Aqueles que conseguiram se preparar antecipadamente, tiveram vantagens.

Segundo João Marcellino, que é managing consultant para os negócios ambientais da Advisian na América do Sul, “o maior impacto foi o movimento de home office, mas sem grandes problemas. Ainda de acordo com ele, foi uma surpresa positiva”. Ele também destacou que não teve contratos encerrados, mas algumas suspensões. E relatou muito atraso nas atividades de campo, o que impactará os trabalhos. Marcellino reforçou que há uma mudança de comportamento, onde a estratégia, o planejamento e a preparação serão fundamentais, uma vez que há menos informações de campo. 

Pensamento semelhante foi apresentado por Karin Formigoni, presidente da divisão ambiental do Brasil e diretora de negócios de remediação da américa latina da ARCADIS, que destacou também contratos suspensos ou adiados. Mas ela reforçou a grande oportunidade para as atividades de consultoria e revisão de processos. Karin relatou, também, uma atenção muito grande com os colaboradores, com atividades para cuidar, inclusive, da saúde mental deles no período de isolamento social.

Sérgio Pompéia, presidente da CPEA, também se expressou como as pessoas “estão se mostrando maduras para o trabalho remoto”, que tende a se fortalecer no futuro. Ele também reforçou as dificuldades envolvendo os trabalhos de campo. Mas destacou os problemas envolvendo o licenciamento ambiental, que acaba sendo prejudicado por conta da paralisação de serviços públicos. Apesar disso, ele fez uma ressalva muito positiva, destacando que o pós-pandemia deve trazer uma grande oportunidade no crescimento no setor de infraestrutura, com um bom crescimento no primeiro trimestre de 2021. 

Paulo Santos, managing partner da ERM no Brasil, reforçou que os negócios não pararam, mas também relatou postergações. Ele foi enfático sobre os impactos causados na logística e reforçou os esforços da empresa para manter a saúde e a segurança da equipe, preparando-se já em dezembro para a chegada da Covid ao Brasil.

Santos destacou a importância da atuação da alta gestão nesse caso, opinião compartilhada por Eugenio Singer, diretor geral da Ramboll Brasil, que destacou a importância de compartilhar a visão estratégica como elemento fundamental para antecipar riscos.

Marco Fabiani, presidente da ES4i, direcionou o foco para as operações, porque “os laboratórios de saúde não podem parar. Justamente pela visão estratégica, eles procuraram criar procedimentos para minimizar os impactos da covid nas atividades, como maior turno de operações, afastar os de maior risco etc.” Neste sentido entra também uma visão de continuidade da operação, como a busca por empresas de desinfecção.  

Já Lucila Telles, country manager no Brasil e líder da divisão ambiental da Golder na américa Latina, concordou com os posicionamentos apresentados pelos colegas, destacando o home office, contratos suspensos ou adiados, dificuldades nas atividades de campo e atrasos nos processos de Licenciamento Ambiental. Ela também destacou questões envolvendo as operações na América Latina, onde outros países, como o Peru, tiveram suspensão total das atividades.

André Rebouças, diretor executivo de water and environment da Mérieux, pontuou que uma pandemia era questão de tempo e que, por isso, começou a se preparar bem cedo, integrando diversos setores, como laboratórios, comercial, campo, coleta etc, de forma a manter a continuidade. Segundo ele, cada setor teve uma estratégia diferente, que foi implantada em meados de março. Isso tudo alinhado com apoio psicológico e foco trabalhista. Contudo, o CEO relatou que os negócios sentiram os impactos na segunda quinzena de março, com a suspensão de entrada de novos trabalhos, cancelamentos e dificuldades logísticas Rebouças destacou a infraestrutura, que será uma oportunidade durante a retomada.

Assim como os demais dirigentes, Gustavo Dorota, diretor operacional da Ramboll Brasil, destacou a importância da visão estratégica e a resposta global. Ele informou que, com os seis escritórios fechados, o home office acabou sendo o foco. Os trabalhos de campo prosseguiram, mas de forma mais cautelosa. Assim como outros os outros líderes, Dorota relatou impactos nas operações e afirma que maio será um mês desafiador.

Por fim, ainda sobre o mesmo tema, Eduardo Yassuda, presidente da TetraTech na américa do sul, apresentou sua realidade, em que destacou o processo de transferência para home office, que passou por algumas dificuldades, como a indisponibilidade de VPN para todos. Mas, segundo ele, também testemunhou melhorias, como reuniões mais produtivas. E acrescentou que as atividades não pararam, o que é positivo. Ele também fez uma análise sobre uma tendência de redução de espaços físicos, que podem cair em 30%.

Setores mais impactados 

A segunda questão colocada por Eugenio Singer disse respeito aos setores mais impactados. Para Eduardo Yassuda, o setor que sofreu maior impacto foi o de óleo e gás, pois a crise do coronavírus coincidiu com os outros impactos globais. Já a atividade de mineração manteve-se positiva.

João Marcellino, por sua vez, disse acreditar que o maior impacto foi na manufatura de carros, que deve apresentar uma retomada lenta. Para ele, o setor de óleo e gás sentiu, mas não vê diminuição, apesar de intensificarem os trabalhos como advisors.

Eugenio Singer, por seu lado, destaca que deve haver um impacto no setor de descomissionamento de plataformas, opinião compartilhada por João Marcellino. Para o CEO, a mineração está resiliente, graças, principalmente, à cadeia de suprimentos. 

Karin Formigoni também não vê impactos grandes em óleo e gás no Brasil, mas projeta dificuldades em outros países, como nos Estados Unidos. Para ela, o setor automotivo foi mais impactado. Ela destacou, também, algumas retomadas em projetos de meio ambiente e energia.

Sergio Pompéia destacou dois focos de retomada, através da infraestrutura e das concessões, como de aeroportos e portos. Ele destacou também que as empresas que terão mais impactos serão aquelas que não querem gastos com questões ambientais, que não se atentam aos gastos com passivos ambientais. Aproveitando o momento, Pompeia também destacou o problema das políticas públicas, que tentam afrouxar as questões ambientais. O CEO destacou que em São Paulo isso será mais difícil, evitando, assim, um sucateamento de liberações ambientais. Contudo, destacou que quem terá impacto são os grandes projetos imobiliários, como shoppings e prédios corporativos, que precisarão se reinventar. 

Paulo Santos enfatiza que o impacto será nas remediações, de forma mais pontual para cada cliente, onde os gestores sofrerão pressão para terem projetos mais eficientes e com menor custos. “Esses projetos de gestão precisarão passar por uma revisão. Apesar disso, haverá potencial para revisões na área de gestão das áreas contaminadas, com o crescimento nas tecnologias de coleta de dados remotos, de tratamento de dados etc”.

Gustavo Mello, concordou que gás e mineração estão mais blindados, sem sofrer grandes impactos, mas ressalva que o setor automotivo parou, assim como toda a cadeia de fornecedores. “O Setor de manufatura sentiu, mas conseguiram se adaptar, mudando suas linhas de produção”. Ele também destacou que remediações sofrerão um impacto, uma vez que poucos entendem o passivo ambiental. Nesse sentido, será necessário buscar soluções “mais cerebrais”, com foco em tecnologia e sustentabilidade. 

Lucila Telles afirmou que é o momento de ajudar colaboradores e fornecedores, tentando não repassar as dificuldades para os parceiros, principalmente porque “as empresas menores não têm o mesmo fôlego para segurar uma crise tão forte. Esses serão bastante impactados”.

Karin Formigoni destacou o papel importante do ESG (Environmental, Social & Governance) com foco na responsabilidade socioambiental. Nesse sentido, desenvolveram diversas ações no setor econômico, como a suspensão do pagamento de dividendos para acionistas, mais flexibilidade com os fornecedores e manutenção dos empregos.

André Rebouças pontuou que a segurança e manutenção de empregos é fundamental. Ele também pontuou a necessidade de sobrevivência da cadeia de fornecedores, que vão sentir fortemente.

Por fim, Marco Fabiani também destacou a parceria com os fornecedores, mantendo a cadeia de suprimentos em funcionamento. Ele ainda destacou a importância do RH no processo para manter a equipe engajada, atuando focada, sem criar o pânico.

 O que a crise nos ensinou?

Com relação aos ensinamentos da crise, Eduardo Yassuda pontuou o fortalecimento das relações humanas, com uma maior participação na vida dos colaboradores. Para os clientes, a crise mostrou fragilidade e transparência para conversar e ajustas às demandas. Para ele, as relações estão fortalecidas.

Gustavo Mello também concordou, destacando a mudança nas relações, aprendendo-se a lidar melhor com clientes e funcionários, além de mostrar a força das atividades virtuais.

André Rebouças afirmou que a crise mostrou a aceleração da parte digital e tornou o mundo um pouco mais humano.

Lucila Telles, da Golder, disse que “a crise nos tirou da zona de conforto e que toda vez que saímos da zona de conforto melhoramos e desenvolvemos ações mais positivas. Permite-se que pensemos diferente, criando mudanças nas relações humanas”.

Marco Fabiani enalteceu a tecnologia e como ela vai mudar as relações de trabalho, reduzindo gastos de viagens e combustível, por exemplo. Ele também acha que teremos questões positivas na redução de espaços físicos e pontuou as mudanças nas relações pessoais. 

Paulo Santos ressaltou a importância da resiliência, paciência e respeito, que vão aprimorar as relações pessoais, enquanto Karin Formigoni enfatizou a resiliência, enaltecendo o desafio de ser líder à distância, capaz de motivar e engajar. Disse, também, que esse tipo de ação fortalece e inova nas relações humanas, pois nos obrigam a sair da zona do medo e buscar soluções. As relações sociais e humanas também foram destacadas.

Sérgio Pompéia reforçou o fortalecimento interpessoal dentro das empresas, que geraram união e criatividade na equipe e João Marcellino encerrou destacando a necessidade de todos se reinventarem e que “as mudanças mais transformadoras serão pessoais, mudando a forma de se conversar, de se comunicar e negociar”.