EMISSÕES

Em que municípios há mais poluição?

08/03/2021

Segundo a primeira edição do SEEG Municípios, uma iniciativa inédita do Observatório do Clima, os dez municípios brasileiros que mais emitem gases de efeito estufa (GEE) somam juntos 172 milhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO2e). A quantidade é superior às emissões de países inteiros como o Peru, a Bélgica ou as Filipinas. Dos dez maiores municípios emissores, sete ficam na Amazônia, onde o desmatamento é a principal fonte de emissões. 

O SEEG calculou as emissões de gases de efeito estufa de todos os 5.570 municípios brasileiros. O levantamento cobre o período 2000/2018 e é detalhado para mais de uma centena de fontes de emissões nos setores de energia, transporte, indústria, agropecuária, tratamento de resíduos e mudanças de uso da terra e florestas. Os dados completos estão disponíveis na plataforma http://seeg.eco.br. Esta é a primeira vez que as emissões da esfera municipal são analisadas no Brasil. O objetivo é aumentar o conhecimento de prefeitos, câmaras de vereadores e da sociedade local de todo o País sobre a dinâmica das emissões e prover uma ferramenta para o desenvolvimento de políticas de desenvolvimento municipal com redução de carbono. 

O município que mais emite no Brasil é São Félix do Xingu (PA), com 29,7 milhões de toneladas brutas de CO2e em 2018. Desse total, as mudanças de uso da terra, em sua maior parte provenientes do desmatamento, respondem por 25,44 milhões de toneladas, seguidas pela agropecuária, com 4,22 milhões de toneladas de CO2e, emitidas principalmente pela digestão do rebanho bovino. O município paraense tem o maior número de cabeças do País. Caso fosse um país, São Félix do Xingu seria o 111o do mundo em emissões, à frente de Uruguai, Noruega, Chile, Croácia, Costa Rica e Panamá, segundo o ranking global de emissões do World Resources Institute. 

O desmatamento também contribui para as emissões per capita dos municípios amazônicos. Cada morador de São Félix do Xingu, por exemplo, emite 225 toneladas de CO2e por ano, quase 22 vezes mais que a média de emissões brutas per capita do Brasil, 12 vezes mais que a dos Estados Unidos e seis vezes mais que a do Qatar, o país com maior emissão per capita no mundo. Colniza (MT) é o sexto maior emissor do País, com 14,3 milhões de toneladas de CO2e emitidas em 2018 e tem a maior emissão per capita bruta do Brasil: 358 toneladas. É como se cada habitante do município tivesse mais de 300 carros rodando 20 quilômetros por dia. 

O campeão de remoções é Altamira (PA), com mais de 22 milhões de toneladas de CO2e. São Félix do Xingu tem remoções de 10 milhões de toneladas. Dos top 10, apenas três cidades não estão na Amazônia: São Paulo, Rio de Janeiro e Serra (ES). O principal fator de emissões nas grandes cidades é o setor de energia, em especial os transportes. Serra, que abriga uma siderúrgica, tem suas emissões sobretudo por processos industriais. O refino e processamento de petróleo elevam emissões em cidades como Manaus e Rio de Janeiro, enquanto termelétricas fósseis aumentam muito as emissões nas cidades que as abrigam. O exemplo mais gritante é Capivari de Baixo (SC), onde há um conjunto de termelétricas a carvão — o complexo Jorge Lacerda, construído nos anos 1960. São três usinas, com capacidade instalada de 857 MW. Capivari de Baixo é o maior emissor do Brasil por área: 85.633 toneladas de CO2 por km2. 

O tratamento de resíduos, embora responda por apenas 4% das emissões brutas do Brasil, é uma fonte de emissões importante para as cidades — especialmente as mais populosas. O Rio lidera esse setor, com 5,6 milhões de toneladas, seguido por São Paulo, que, apesar de ter o dobro da população, emite 5,45 milhões de toneladas, devido à maior eficiência no tratamento de lixo e à captura de metano para gerar energia em aterros sanitários. "Até hoje menos de 5% dos municípios brasileiros tinham algum inventário de emissões de gases de efeito estufa. Agora todos terão os dados para uma série de 20 anos e esperamos que isso sirva de estímulo para promover o desenvolvimento local com redução das emissões e enfrentamento das mudanças climáticas", explica Tasso Azevedo, coordenador-geral do SEEG. "Como os dados são disponibilizados de forma aberta e gratuita, significam também uma enorme economia de recursos públicos, que podem ser focados nas ações para reduzir emissões", completa.