ÁGUA

A indústria como parte da solução

22/03/2016

Por Jorge Soto*

De acordo com o Fórum Econômico Mundial, a crise hídrica é o risco mais impactante que o mundo enfrenta. Enquanto alguns lugares, como a Somália, sofrem com longos períodos de seca, em outros, como no Sul no Brasil, o excesso de chuva causa estragos de grandes proporções. Essas grandes variações acontecem até dentro do mesmo país e em todos os casos há consequências importantes no desenvolvimento socioeconômico. E as mudanças climáticas já estão agravando essa situação. Nós estamos preparados para cenários cada vez mais imprevisíveis e extremos?

Há anos a gestão da água é um assunto prioritário para a ONU (Organização das Nações Unidas), mas hoje o tema também está nas agendas de discussões de um número significativo de companhias em todo mundo. Isso porque está claro que sociedade, governo e empresas devem atuar em conjunto para desenvolver políticas que melhorem, em todas as esferas, a eficiência e a produtividade desse recurso natural insubstituível.

Se tradicionalmente a gestão da água industrial estava focada apenas em reduzir custos e melhorar a eficiência – cerca de dois terços das maiores companhias globais reportaram estar sujeitas a riscos relacionados ao recurso –, atualmente empresas ambientalmente responsáveis já perceberam que tal estratégia é um componente crítico para o desenvolvimento sustentável. Não querem e não podem competir com a comunidade. Pelo contrário, têm que se engajar na solução do problema.

Da porta para dentro das indústrias, além de entender como a água é utilizada e o destino dado aos efluentes, a gestão hídrica deve analisar e otimizar todos os recursos de uma unidade produtiva e levar em conta fatores externos, como as mudanças climáticas. Ou seja, é uma questão estratégica e deve ser incorporada à estratégia de negócios. As empresas precisam identificar riscos e oportunidades associados ao uso desse recurso olhando para o curto, médio e longo prazo. Crescimento da população nas cidades, excesso ou falta de chuva, a integração regional olhando a situação das bacias, mudanças de padrão de uso de solo, são questões que estão em crescimento e devem motivar as empresas a fortalecer o assunto.

Por outro lado, onde há um grande desafio há também uma vastidão de oportunidades. Muitas iniciativas interessantes e possíveis de replicar já são realidade e muitas outras podem ser desenvolvidas por meio da inovação. No ABC Paulista, por exemplo, o Projeto Aquapolo é o resultado de uma parceria público-privada que pode fornecer até mil litros por segundo de água de reúso, a partir do tratamento de esgoto doméstico, para outras empresas do Polo Petroquímico de Mauá. Os benefícios vão além da economia de água potável, uma vez que ao tratar esgoto vários problemas ambientais e de saúde pública são minimizados. Há um ganho social claro. Mas também as indústrias da região ganharam, por reduzir o risco de desabastecimento.

Outra demonstração dos esforços empreendidos por companhias é o engajamento, ao lado das comunidades, na busca de solução de problemas. No Brasil, o Movimento pela Redução de Perdas de Água na Distribuição – uma iniciativa da Rede Brasileira do Pacto Global da ONU e liderado pela Braskem e pela Sanasa – tem como objetivo debater amplamente a respeito das perdas de água nos sistemas de distribuição, com a participação de governos, sociedade civil e setor privado. Além disso, há iniciativas como o CEO Water Mandate, da ONU, que mobiliza líderes empresariais de todo mundo em busca de avanços no gerenciamento da água e do saneamento; a Comissão Técnica para Água, do Cebds (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável); e o Instituto Trata Brasil.

As soluções para os problemas socioambientais continuarão sendo discutidas ao redor do mundo. A ONU acabou de propor a nova agenda para 2030, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Não há dúvidas de que as indústrias têm um papel fundamental na entrega de soluções para esse desenvolvimento que tanto almejamos. Para tal devemos continuar a fazer nosso dever de casa, minimizando os eventuais impactos negativos e potencializando os impactos positivos nas três dimensões da sustentabilidade: econômica, social e ambiental.
 


* Jorge Soto é Diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem