Interação animais-plantas mantém diversidade

22/03/2022
Estudo serve de base para projetos de conservação e reflorestamento.

Os frutos suculentos e adocicados produzidos pela guapeva-vermelha (Pouteria bullata), árvore exclusiva da Mata Atlântica, podem estar com os dias contados devido à ação de desmatamento verificada nesse bioma, segundo informa a Agência FAPESP, em texto assinado por André Julião: “suas sementes têm cerca de dois centímetros e, portanto, são grandes demais para serem engolidas por pássaros e pequenos mamíferos. Desse modo, a planta depende exclusivamente de primatas como o bugio (Alouatta guariba) e o muriqui (Brachyteles arachnoides) e, eventualmente, da anta (Tapirus terrestris) para dispersar seu material genético e perpetuar a espécie”.
Um estudo elaborado pela pesquisadora Lisieux Fuzessy, realizado com apoio da FAPESP durante seu pós-doutorado no Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (IB-Unesp), em Rio Claro, deixa claro a complexidade do processo de dispersão de sementes, “que abarca muitos tipos de vertebrados ao mesmo tempo. O reflexo do desmatamento é a extinção tanto de animais, que perdem o alimento, como de vegetais, que não podem mais se dispersar”. Além dos primatas, foram incluídos no estudo dados sobre a dispersão de sementes por aves, morcegos, carnívoros, marsupiais, roedores e ungulados (cervídeos, antas, porcos-do-mato etc.). 

O trabalho de Lisieux, que integra o projeto “O efeito da fragmentação sobre as funções ecológicas dos primatas”, foi coordenado pela professora do IB-Unesp Laurence Culot, e teve a colaboração do pesquisador Pedro Jordano.

Impactos da perda de fauna na floresta

Duas áreas florestais do Estado de São Paulo foram consideradas para o entendimento dos impactos: a Serra de Paranapiacaba e a Mata de Santa Genebra – a primeira bastante conservada, com mais de 120 mil hectares distribuídos por áreas protegidas e propriedades particulares e a segunda, um fragmento de área de 250 hectares, que foi desmatada até 1984, quando passou a ser protegida. 

Os reflexos são evidentes: enquanto na Serra de Paranapiacaba ainda existem grandes mamíferos ameaçados de extinção (onça-pintada, cachorro-vinagre e antas, entre outros), além da ave frugívora Jacutinga, na Mata de Santa Genebra são encontradas apenas pequenas aves e mamíferos de porte médio, como pacas, gambás e caxinguelês. Em números, isso significa 1.588 interações na Serra de Paranapiacaba (entre 133 animais e 315 plantas), contra 221 interações na Mata de Santa Genebra, entre 54 animais e 58 plantas. “É a interação entre animais e plantas, ou a diversidade funcional, que faz a floresta prosperar”, enfatiza Lisieux, lembrando que “o estudo serve de base para projetos de conservação e reflorestamento”.