O que a próxima década reserva para energia e sustentabilidade

31/08/2021
Artigo por Dominic Barbato

Por Dominic Barbato *

Os setores de energia e sustentabilidade passaram por mudanças mais rápidas entre 2010 e 2020 do que nos 50 anos anteriores. Na nova década, essa transformação global não mostra sinais de desaceleração – apesar da crise da Covid-19. As empresas estão se movendo mais rapidamente e de diferentes formas inovadoras para lidar com as próprias emissões de carbono e as de toda a sua cadeia de valor. 

Para muitos, 2020 foi um ponto de inflexão para a ação climática e 2030 será o próximo grande marco, fazendo com que muitos se perguntem: que progresso, interrupções e oportunidades as empresas podem esperar futuramente? 

O surgimento de uma economia de identidade

Atualmente, o modelo de economia de experiência está sendo substituído pela economia da identidade. Isso porque as novas gerações de consumidores e funcionários valorizam cada vez mais as marcas nas quais se sentem representados. Os indivíduos desejam interagir com organizações que compartilham seu ethos e optam pelas marcas não apenas com base nos bens e serviços que esta produz, mas também no seu legado. 

A sustentabilidade é um dos principais, senão o mais importante, fator de influência. Além disso, as iniciativas que tiverem esse conceito intrínseco poderão observar mais rapidamente a aceleração da lucratividade, terão uma melhor direção estratégica e contarão com uma gestão financeira e de riscos mais assertiva, garantindo a continuidade do negócio. 

Podemos pegar como exemplo disso empresas líderes em todo o mundo que atraem talentos por conta de seus compromissos com o meio ambiente, práticas de comércio justo, uso de tecidos reaproveitados, embalagens compostáveis ou outros atributos semelhantes. Algumas até articulam como os preços mais altos de certos bens contribuem para a comunidade local, o uso mais sustentável da terra e até mesmo a rastreabilidade dos insumos. 

Possivelmente, nos próximos dez anos, as empresas precisarão investir ainda mais em ações decisivas que atendam às demandas de sustentabilidade de seus acionistas, clientes, conselhos, executivos, funcionários, entre outros, para aproveitar as oportunidades apresentadas e estar em consonância com as mudanças do mundo.

Reimaginando a rede de energia para um futuro sustentável

A sustentabilidade também poderá ser observada na utilização energética. A Bloomberg New Energy Finance acredita que a energia eólica e a solar fornecerão 50% da eletricidade mundial até 2050. E, quando o armazenamento da bateria se tornar mais econômico, podem atingir 80% de penetração em alguns mercados. 

Fato é que o gerenciamento de energia convencional com combustível fóssil está sendo desafiado pela rede de geração renovável e recursos de energia distribuída (DERs). Na maioria dos mercados globais, esta última já está começando a rivalizar e a ultrapassar até mesmo as fontes mais baratas. 

Embora a maioria das opções de armazenamento de energia em grande escala ainda não seja comercialmente viável, não podemos presumir que esse cenário irá se manter até 2030. Ao mitigar os problemas de intermitência e carga de base que as fontes de energia renováveis enfrentam, as barreiras que impedem uma maior adoção de recursos eólicos e solares desaparecerão. 

Dessa forma, as microrredes vão conectar uma combinação de tecnologias limpas, ajudar as organizações a operar de forma autônoma em relação à rede tradicional e integrar fontes renováveis em uma escala ainda maior. 

Um dos grandes valores das tecnologias de microrrede é que elas permitem que as organizações operem independentemente da rede elétrica – uma estratégia preparada para, no futuro, gerenciar interrupções no fornecimento de energia causadas por eventos climáticos extremos ou, como estamos vivenciando, pandemias. 

Recursos autônomos vão impulsionar o crescimento do ecossistema de energia renovável

A forma como se gerencia e se monitora a energia também está mudando, junto com o seu fluxo. A proliferação de energias renováveis e outros DERs começaram a testar muitas das suposições de longa data que sustentam os sistemas de energia de hoje e estão impulsionando a inovação, à medida que os produtores e consumidores buscam monetizar a flexibilidade de seus DERs usando fluxos de energia bidirecionais. 

No futuro, inúmeros DERs de todos os tamanhos e variedades criarão novas oportunidades de mercado para que os produtores e consumidores otimizem seus recursos de energia. Hoje já temos um exemplo disso. Enquanto o carro elétrico está parado em uma garagem, ele pode atuar como um DER – baixando energia quando há um excedente da rede ou carregando eletricidade sobressalente de volta para a rede quando há uma escassez – e, no processo, reduzir potencialmente os custos de carregamento. 

Além disso, graças aos microchips de baixo custo habilitados para comunicação e incorporados em tudo, desde eletrodomésticos até veículos elétricos e lâmpadas inteligentes, a capacidade de criar uma resposta em qualquer número de ativos altamente distribuídos existe hoje. Esse nível de interconexão pode parecer futurístico, mas é o centro da revolução da Internet das Coisas (IoT), que está impulsionando a inovação em praticamente todos os setores globais. 

Por isso, nesses tempos de incerteza, olhar para o futuro da energia e da sustentabilidade inspira esperança e o propósito de fazer melhor. Esse sentimento pode revolucionar a maneira como os negócios funcionam hoje e estimular a adoção de práticas que beneficiem não só os resultados financeiros, mas também o meio ambiente.


* Dominic Barbato é diretor de Estratégia da Schneider Electric, serviços de energia e sustentabilidade

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