Tungstato de prata afeta atividade de microalgas

10/08/2022
O tungstato de prata é uma substância usada principalmente nas indústrias de catalisadores, eletrônica e química, que é nociva para a água e o meio ambiente. 

Uma pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com colaboração do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), espaço voltado à Pesquisa, Inovação e Difusão da Fapesp, procurou entender os efeitos e mecanismos de toxicidade de diferentes morfologias de tungstato de prata sobre organismos planctônicos de ecossistemas de água doce, microalgas e microcrustáceos. O tungstato de prata é uma substância usada principalmente nas indústrias de catalisadores, eletrônica e química, que é nociva para a água e o meio ambiente. 

Os pesquisadores do estudo analisaram os efeitos do tungstato de prata sobre uma espécie de alga verde unicelular, a Raphidocelis subcapitata. A equipe constatou que a substância afetou a atividade fotossintética da microalga, principalmente nas primeiras horas de exposição. Além das características fisiológicas, o grupo observou redução na densidade celular e um aumento nas biomoléculas na maior concentração de tungstato de prata como um mecanismo de defesa para reduzir os impactos causados pelo microcristal. “Os parâmetros analisados neste estudo reforçam a importância de avaliar aspectos fisiológicos, populacionais (densidade celular) e os teores de biomoléculas (como clorina e carboidrato) em estudos de ecotoxicidade. Portanto, identificar os alvos de tungstato de prata contribui para entender os mecanismos de ação deste semicondutor sobre a microalga”, explica Cínthia Abreu, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UFSCar e primeira autora do artigo http://cdmf.org.br/2022/07/14/effects-of-%ce%b1-ag2wo4-crystals-on-photosynthetic-efficiency-and-biomolecule-composition-of-the-algae-raphidocelis-subcapitata/, que apresenta os resultados do estudo, publicado no periódico Water, Air, & Soil Pollution. 

Cínthia observou também que alterações nas microalgas no trabalho podem ser prejudiciais em longo prazo. Segundo ela, pelo fato de serem organismos autotróficos, os impactos na base da cadeia alimentar podem representar ameaças a níveis tróficos superiores. Como as microalgas são organismos autótrofos e base da cadeia trófica, isto é, responsáveis por processos essenciais à manutenção da vida na Terra, como, por exemplo, a produção de oxigênio e a fixação de carbono, as alterações nos processos fotossintéticos desses seres podem afetar níveis tróficos superiores, causando sérios problemas aos ecossistemas e também à espécie humana. 

Os dados da pesquisa ainda serão úteis para prever e avaliar os riscos causados pelos microcristais, além de nortear políticas públicas e agências reguladoras no estabelecimento de limites seguros de materiais funcionais para o ecossistema aquático. Para Cínthia, as próximas etapas da pesquisa englobam o entendimento dos efeitos da morfologia cúbica de tungstato de prata sobre parâmetros fotossintéticos e bioquímicos da microalga R. subcapitata. Além disso, o grupo identificou recentemente os efeitos de ambas morfologias do tungstato de prata sobre uma espécie nativa de microcrustáceo, a Ceriodaphnia silvestrii.